terça-feira

Photoshop

Estou no parapeito, com vista para o pomar, naquele pedaço de tempo que é um tempo só para mim. Mãos trémulas lançam as últimas beatas de cigarro saudade e fertilizante do meu cortex. Por acaso, quis brisa soprar uns prantos. A Cerejeira esquelética sentiu, tomou-se de dores, com suas folhas a estremecerem quais espasmos de medo. O Castanheiro calvo, robusto companheiro de sombra, amparou-a não fosse seu choro contagiar canteiro das rosas intrusas. Lá longe, quase na Lua, sorriam com desgosto alheio as laranjas lilases. Tão malvadas mas tão desejadas, pois se uns preferem maçãs há quem simplesmente mate fome e desejo com uma impressão a cores esbatida. Numa montagem de mágoa, manipulação é acto reflectido. Mil vezes; sem conta para prestar, nem tecto para abrigar; coração fecha-se como janela que estou a fechar. Amanhã, mais parapeito, menos vista, mais cigarro, menos beatas, mais pomar, menos fruta. Talvez, quem sabe, rosas pretas às bolinhas amarelas.

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