sexta-feira

marcha gole em tic-tac

tenho um relógio sem ponteiros
para o tempo fugir pela saudade
amanhã entre outros seremos
nessa artéria que se fez
talvez de uma língua
trago do teu mundo
apenas fumo
apenas

quinta-feira

figuras do lado de cá

Vivo num subúrbio e sinto-o

A Dona _________ gaba todos os Domingos
é vê-la combater uma praga de formigas sem desviar o olhar da missa dominical

O Sr. _________ tem ataques diarreicos
mal dizem que talvez se encontre num estado volátil de sexualidade

O menino ___________ doa esperma aos turistas
para depois lhes retirar os melhores órgãos com uma colher de sobremesa

Eu?
estou à procura do caniche da minha vizinha
trilho um carreiro
oiço gritos
esvaio-me em penas
oiço gritos
fígados da alma
oiço gritos
foi corno posto
foi corno posto

Vivo num subúrbio e sinto-o.

terça-feira

PVC

De pernas bem abertas
o choro não cabe na bacia
gritos rasgam a pele
o choro não cabe na bacia
dedos como pente da alma
o choro não cabe na bacia
gota a gota
transbordou morte.

segunda-feira

?

Perguntam-me o que trago nas mãos
ostras de plástico
envoltas num bordado
ponto de luz

Perguntam-me se já fodi
todos os dias
em silêncio
e quase sempre o silêncio

Perguntam-me por palavras destiladas
responder-lhes-á o meu fígado
que Deus não oiça
nem veja
que Deus tropece nos dias.

sexta-feira

N#.#####º W#.#####º

comprei um manual para a felicidade
estranho como tudo se pode orientar
sintam isso
quando o coração muda de rota
não há gps que nos valha
reparem nisto
comprei um manual para a felicidade
e do prefácio à saudade vai uma curta distância
vejam bem
são dois dedos
dois finos dedos de poesia.

quinta-feira

colagens

sendo certo que para o amor já contribuí
aguardo uma qualquer factura

nosso mar vai cedendo
espuma aos dias maltratados

sendo certo que para o amor já contribuí
aguardo uma qualquer fractura

nosso mar vai cedendo
areia aos dias maltratados

sendo certo que és mais barro
moldo
até partires
moldo-te
até partir

sexta-feira

senhor perónio


é devoto; até à unha encravada do polegar esquerdo; não de uma qualquer santinha perdida no lote da quinquilharia avulsa que ainda hoje religiosamente guarda no bidé mas sim da andorinha que a cada hora rasa o quadro aguarela com vista para um prado verdejante. já tentaram impingir uma cotovia, tamanha afronta para quem recusa viver numa outra estação que não seja a primavera só pela sua ludovina que chegou a morar na vivenda bina . acreditem! o coração que traz no peito deixa de bater. previdente, nem assim morre. tem sempre o coração da cabeça em modo gerador que lhe autoriza esperar pelas primeiras flores.

quinta-feira

pulmonar

peco por omissão
afinal
tenho muito
muito
muito amor
nos pulmões

nódoas de beata
riem?
estejam à vontade
sentem-se
trouxeram lenços?
pois tossi
digam a deus
adeus