segunda-feira

Divino pénis

Deus é como um foco de presença, nem sempre se dá por ele. Terá picos de comichão? Para que fique registado, neste momento, tenho um pénis agrafado à testa e sinto-me feliz. De tal molde, nunca ouvi reclamações. Malvado, Deus está a esboçar um sorriso! Quase previsível não fora os dentes cariados.

Loiro, olhos verdes, pele de alabastro, enfim quem quiser retratar-me num soneto sinta-se à vontade. Cada Petrarca sua Laura, cada obra rima com seu criador. É a tua cruz – sempre apregoa a minha tia Tomásia; tão assertiva quanto ninfomaníaca; o sonho de qualquer sobrinho adolescente que mancha os lençóis engomados pela criada de peito farto e chupado pela dentadura do patriarca. Pormenores são detalhes e estes varrem-se para o alçapão da memória. Quem dera esquecer…

Nasci numa Segunda – Feira, em abono da verdade, dia particularmente soalheiro e a convidar preguiça. Suponho que Deus estivesse ainda a pensar no passeio dominical, nas partidas de “bisca do sete” com os seus colegas de escola e nos banhos de espuma com palitos “la reine”. Raios, estas minhas dúvidas seriam facilmente dissipadas se não adormecesse mal o meu olho esquerdo acaba de piscar ao crucifixo. Certo, certo que o relaxamento divino foi fatal. À sua imagem, ou à imagem feita pelo Homem do homem feito Deus, fez-me quase perfeito. Faltar-lhe-á algo? – Perguntar-se-ão os prezados leitores que ainda não perceberam o cerne desta verborreia. Pénis pequeno, diz-vos alguma coisa?

Haja fé e língua. Pois, pois que remédio. Ou então um sucedâneo… O meu, de tanto fornicar o ar, partiu-se e levou consigo um conselho da minha querida ama:
- A beatice e a heresia são como o amor e ódio, nunca sabemos quando se dá a transição.