sexta-feira

A influência de Deus

Como pão ázimo
restrinjo-me à falácia do amor
por tua tão grande culpa
inspiro no peito que abri.

quinta-feira

Vã glória de acordar

Não gosto de rosas
cheiram a milagres

não gosto de milagres
sobrevivem às juras

não gosto de juras
acredite quem quiser

estas palavras
quase as rompi
num momento de lucidez
a negação é o último dos meus pecados.

quarta-feira

Ginástica

o amor
por vezes calça
um losango da razão
abrindo seus lábios
até aos pés.

terça-feira

Musgo

bem vivo
está no meu coração
rasteiro
lança-se às artérias
objectivo: dedos, esses apêndices da alma.

segunda-feira

A vida da vagina- Ínfima parte

---Homenagem do pardal---

leva-lhe pelo bico um pedaço de céu

---Homenagem do vento---

serpenteia a letra [e] já órfã

---Homenagem do pintor---

azul ciano sobre branco pérola

---Homenagem do sobrinho---

« terna saudade»

Vagina não fala
logo não agradece

Ingrata


In "Cemitério nus prazeres"

sexta-feira

De que adianta uma margem se o rio já não me corre?

pego nos dedos
o junco que fui
entre palavras
meu corpo velará.

quinta-feira

Essa nuvem carrega a boca do tempo

Quem dera ter sentido
mas insisto
deixar-me engolir
à boleia de um balão
penteio árvores com os cordões dos sapatos
resumo histórias nos olhos das aves que migram para sul.