quarta-feira

memórias pluviais

há uma escada que leva o seu tempo
num sorriso cariado
haverá chumbo
chumbo no coração

há quem suba
ora demais, ora nem assim tanto
já dizia a minha tia Tomásia
o amor é uma vertigem das nuvens.

na verdade

deus é um citrino
provo-o aos gomos.

terça-feira

a amiga e os fungos

a mulher chorava
sua cadela havia morrido
quem lhe iria lamber as lágrimas?

tudo tinha feito
biscoito do melhor osso importado
ou puro cubano “made in China”

por ela
iria a Meca
bateria no Muro
mas nem deu tempo de avistar a primeira placa para Fátima

num acto de compaixão
aliviara as dores com água benta
bendito suborno ao sacristão

noites infindáveis
de poesia sem colesterol
não fosse Celeste enjoar

mas já era tarde
partira
dizem que a causa foi pata de atleta.

sexta-feira

variações

no lugar que me resta

no lugar que me abriga

só a mente afunda

só a solidão quebra

peço desculpa pela previsibilidade

mas a minha lua já não trinca madrugadas

a maresia?

morreu na praia cansada de atropelar rugas

porém, traço-me sem linhas

peço desculpa pela incongruência

certezas?

quem dera

talvez arrisque

talvez oiça

o lugar que me resta

o lugar que me abriga

talvez devolva

a mente

a solidão

mesmo assim

retracto-me em retrato

num instante a preto e branco

cinza foi pavor

um dia

meu estrume será.