domingo

Interrupção voluntária de versos

Dez anos passaram
o frigorífico está como sempre esteve
cheio de ossos do sacrifício
pela vida
eu continuo predador
hoje, insónias e chá verde
resta a lua preguiçosa
uma boca de saudades
conto quatro, seis, nove relógios
trago a ironia
essa que me pariu para vos abortar poesia

quinta-feira

Fibra

Minha corda
tua corda
a cabeça na forqueta

Minha fada
tua fada
a barriga na gaveta

Fechei história
venham os cereais.

quarta-feira

Sucessão

Ao fim de quatro abortos
já o negócio da filha havia dado prejuízo
virou-se para a sobrinha
e logo choveram ananases pelo cu
foi ontem
dizem
que eu ainda não o sonhei.

Photoverso

A minha alma é quase lua
nem sempre se deixa retratar
[mas hoje]
pousa para mim
[hoje]
eu pouso aqui.

sexta-feira

falem

falem da tristeza
com as mãos

ouvir-vos-ei
até remar saudades

falem desse rio
onde começa
onde se perde
nas bocas.

segunda-feira

. a .

Ponto a ponto
o coração
descoseu-se em vida