terça-feira

A vida de Jesus - II

Fuga para a frente. – disse o andor para o povo. E lá foi ao pé-coxinho. Irra… que custa! Paciência, outros hão-de vir. É como tudo na vida, mal se acorda e já se está a dormir. Pois, pois, e o braço de cera que não acompanha a perna de pau? – desafia uma beata ainda acesa por não ter sido varrida a tempo. Oh adro, para que me queres assim tão puta? – brada uma das muitas pecadoras reformadas. Deixa lá que isso passa, ainda ontem puxei o sino para casamento e afinal era um enterro… – atalhou o sacristão. Meu Deus, se sois tão bom e passas por todo o lado, bem que poderias afagar-me as costas e já agora levar os bicos de papagaio para uma ilha exótica. – implorou a Dona Joaquina dona da única mercearia que vende a finados. Enfim, só falta um cão ladrar, decerto terá a sua ração no céu. Quem sabe? Eu, eu, … – lança o espelho. Toda e qualquer história de vida sem nexo reflecte-se num espelho. Dizem que dá fio condutor e ajuda a expor entranhas. Oh e como são feias… Sim! São mesmo, mesmo assim a fugir do medo, tal e qual o andor. Também andam ao pé-coxinho? – inquiriu alguém de quem já esqueci o nome. Ora, ora, espelho mas não sou bruxo se o fosse não estaria aqui, montaria negócio… De quê? – gritou um curioso metido a martelo. Bolas de sabão pois as de cristal ficam muito caras. – rematou o espelho partindo-se num instante, deixando ainda assim antever uma cruz. Carregasse o peso do mundo e certamente cuspiria mais raiva. – dissertava, em estado ébrio, o filósofo despedido pela saudade.

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