Não te sei rezar. Desculpas-me? Ninguém é perfeito e assumo fraquezas num mundo para gente que se quer forte. Sabes, sempre fui muito precoce… os lençóis que o digam. Na verdade, a minha catequese resumiu-se a uns quantos sonhos libidinosos com a senhora de meia-idade que tentava ensinar as mais variadas orações. Chamava-se Dona Joaquina. Creio que agora se chama avó Quininha e certamente usará placa dentária. Oh tempo! És tão cruel e curvas-te perante a flacidez na derme. Disparate meu, esculpida com tal condão jamais provarás essa impudência.
É provável que te rias mas passei anos e anos a questionar o Credo. Sim, de tanto abrir e fechar boca juntamente com os meus colegas de ocasião, acabei por decorá-lo quase na totalidade. Foi uma espécie de mimetismo a que minha mãe furiosamente se atirava. A tabuada “do sete” não aprendes tu, nunca hás-de dar nada na vida. – profetizava com saliva a gotejar por detrás do balcão da padaria “Regueifas de querubins”. Diga-se que nem se enganou muito, sou muito mais solitário que solidário. Retomando… Com estes lábios que Deus me deu, louvado seja, praguejava:
- … Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos;
Deus de Deus,
Luz da Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, mal criado,
consubstancial ao Pai…
Pois! Ouviste bem e se pudesses corar farias inveja às cerejas. Diante de ti, ajoelho-me em penitência. Fui capaz de proferir uma infame acusação. Que se saiba não há relatos de violência na tua família e o menino sempre pareceu bem nutrido. Perdão! O quê? Estás com dúvidas? Ah…pensas que afinal quereria dizer:
- … Creio em um só Senhor,
Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos;
Deus de Deus,
Luz da Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, malcriado,
consubstancial ao Pai…
Céus! Mas isso seria terrível. Nunca por nunca, então eu sei bem a educação esmerada que lhe deste. Diabo seja ventríloquo se alguma vez o homem feito Deus ou Deus feito homem (estou confuso) recorreu a um palavrão que fosse. Era possuidor de vocabulário refinado, com um poder oratório digno das mais belas parábolas. Crês em mim? Sim? Sim! De tanto ouvi-lo, aprendi a dizer não. Ao “hoje, não quero pois falta-me meia perna para depilar” já consigo contrapor “hoje, não pode ser pois acabei de ver o Bambi”.
Está frio, não? E ainda nem fiz a minha boa acção do dia. Uma vez escuteiro para sempre escuteiro. Acho que velarás melhor o jardim se te colocar ao pescoço este napron. Giro, combina até com a mármore.
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